Ganhámos ao Boavista. Repito, ganhámos ao Boavista. Continuamos em primeiros e só dependemos de nós para passarmos o ano em primeiros. Tudo mudou, mas tudo parece na mesma. O João Pereira não serve e continuamos à espera de Godot, que não chega [nunca chega, se quisermos meter Samuel Beckett ao barulho]. Temos o presente, este presente, mas não nos chega, continuamos a idealizá-lo com o Abel Ferreira e o Sérgio Conceição [de acordo com o que vamos lendo e ouvindo os sócios e adeptos do Sporting].
O jogo não começou nada mal para uma equipa que sofre de melancolia e um treinador sem habilitações. Cerca de meia hora de insistência e primeiro golo marcado [pelo inevitável Gyökeres]. Como vem sendo hábito, depois de marcado o primeiro golo, a equipa começa a sofrer de stress pós-traumático, revivendo momentos de felicidade com o Rúben Amorim e o dia da sua partida [para não mais voltar].
O Salvador Agra, essa promessa [permanentemente] adiada do futebol português, vai pelo meio-campo fora e, chegando ao bico da grande área, para, pensa, hesita e desfaz-se da bola, chutando-a para a molhada onde um avançado, que não marcava um golo desde que o Luís Montenegro é primeiro-ministro, cabeceia sem tirar os pés do chão e empata o jogo. Na defesa, é difícil saber quem esteve pior: se o Matheus Reis, o Eduardo Quaresma ou o Zeno Debast. Porventura, estiveram todos mal e quando assim é, então, a culpa costuma ser do treinador, a não ser que não disponha das necessárias qualificações, não se podendo qualificá-lo como tal.
Entrámos cheios de força na segunda parte, com tanta força que até o Maxi Araújo, que não tira os olhos da bola, por uma vez a meteu direitinha para o Trincão a encostar para a baliza e fazer o dois a um. O enguiço do Moreirense e do Brugge estava quebrado e nada mais havia a temer, pensava eu com os meus botões [o recurso a vários lugares-comuns numa mesma frase é característico de grandes autores portugueses, como o José Rodrigues do Santos ou o Jorge Nuno Pinto da Costa].
Pensava, mas pensava mal e os botões são os menos culpados. Biqueirada para a frente, Geny Catamo a perder de cabeça contra um adversário que tem mais dois palmos e meio, enquanto o Eduardo Quaresma ia passeando por ali, bola na área e Zeno Debast a aparecer tarde e a más horas a fazer a dobra, permitindo um remate maljeitoso e um frango de difícil execução do Franco Israel [a bola ia direitinha ter com ele e podia ter-se limitado a afastar-se, mas, não, preferiu atirar-se de cabeça para o chão e procurar defender a bola com as mãos, deixando-a passar].
O Franco Israel não é, nunca foi de confiança. Se fosse, não precisávamos de contratar o Vladan Kovačević, pensando que encontráramos a solução. A contratação de um novo frangueiro não faz do antigo frangueiro um bom guarda-redes. Entre um novo e um antigo [frangueiro], preferíamos o antigo. Por o preferimos não estamos a estabelecer uma hierarquia quanto à qualidade. É uma simples questão de hábito e o homem é um animal de hábitos, que nem sempre fazem o monge [mais um trocadilho destes e estou pronto a participar nos programas da manhã da TVI e da SIC].
Tinha nascido o enguiço do Boavista, voltei a pensar com os meus botões [mantenho uma relação muito coloquial com eles, em particular com uns botões de pele que tenho num caso verde de “tweed”]. O enguiço nasceu para logo ser quebrado pelo Trincão outra vez, depois de uma jogada que o João Pereira tinha encontrado nos apontamentos que o Rúben Amorim lhe deixou. Bem, depois, aconteceram coisas, as coisas habituais. O árbitro e o vídeo-árbitro não viram um “penalty” contra o Benfica [estava escuro, muito escuro, segundo nos comunicaram] e os do Porto desataram à bofetada no túnel do Estádio do Dragão. Tudo muda, tudo fica na mesma, não é bem assim que se diz, mas Lampedusa não é para aqui chamado.
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