terça-feira, 9 de julho de 2024

Uma selecção chamada desejo

 

A selecção portuguesa de futebol que esteve no presente europeu é um produto de marketing e, ao mesmo tempo, sendo um produto de marketing, tornou-se um produto do marketing que sempre a envolveu. O seu jogador mais conhecido é, em si mesmo, uma marca, marca essa que ultrapassa em valor (arriscamos aqui um pedaço do nosso pouco valioso pescoço) a própria selecção, valor esse medido nos nossos dias em gostos, redes sociais, publicidade e anexos mais ou menos mensuráveis e disponíveis em ecrãs. A marca em causa, por outro lado, jogou no último ano num país que se quer fazer passar por um sítio onde se joga futebol e onde toda a gente pode ir à bola com farnel e lenço para protecção solar (desde que…). Trata-se de um trabalho bem pago e acessível a outras marcas mais ou menos reconhecidas no milieu. Nada disto é novo.

Jogar um europeu com uma marca lá na frente e o resto do grupo como um produto de marketing tem os seus riscos. Jogadores que são convocados (desde a fase de grupos) para supostamente relançarem as carreiras, outros que, após lesão nos clubes, fazem treinos de recuperação para estarem no ponto para os respectivos campeonatos, sem praticamente jogarem durante o europeu, fazem-nos pensar na eventualidade disto tudo ser uma ficção jocosa muito além dos nosso poderes de percepção.

Os jogos dizem-nos os entendidos, são demasiados tácticos, mas, na verdade, são um tédio que precede a táctica, e não o contrário, são jogos supostamente de laboratório em que os ratinhos são os espectadores, não na persona de consumidores, mas como parte de um mundo de especulação que ultrapassa o jogo da bola, corroendo-o definitivamente. E ninguém tem paciência para horas seguidas (seis?) sem um único golo marcado. Curiosamente, o manto do marketing encobriu esse pormenor num esclarecedor: merecíamos mais. Pois merecíamos.

 

Nota: Para mim o Manuel Fernandes não era uma marca mas lá que deixou marca deixou. A minha infância não seria a mesma sem ele.

Nota2: Por falar em capitão, Coates agora só em Montevideu. Vamos ver se as surpresas ficam por aqui neste longo defeso.  Venha lá esse campeonato. 

2 comentários:

  1. Caros Liedsons, só para recordar que as tradições se devem manter e que todos acreditamos no bi, alicerçado nas infalíveis crónicas semanais aqui publicadas. Com um abraço leonino e a expectativa de muito gozo na leitura. Abraço

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  2. Sr. Rui Monteiro, por favor nao me retir o prazer de ler os blogs do Sporting, especialmente os acutilantes como o seu

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