domingo, 5 de junho de 2016

O estado da corporação

O ABC ganhou o campeonato de Andebol. Parabéns ao ABC. No entanto, cheira-me que alguns dos seus adeptos ficariam satisfeitos fosse qual fosse o desfecho da final. Para a história fica o adiamento deste último jogo por suposto não envio de bilhetes para o Benfica. Ora esse (suposto) não envio de bilhetes já havia acontecido nas meias-finais com o Sporting sem direito a qualquer adiamento por linhas tortas (isto para não falarmos dos casos de arbitragem).

Se quisermos fazer a ponte para um jogo com patins e sticks verificamos que a polémica da cedência de bilhetes só teve eco quando foi o Sporting a (tentar) fazê-lo, como resposta, aliás, a uma acção anterior do Benfica, que se havia recusado a enviar bilhetes para Alvalade, passada completamente despercebida.

Esta semana ficamos a saber que a acção judicial imposta pelo Benfica a Jorge Jesus não passa de uma charada para entreter adeptos mais incautos. Grande parte da (eventual) prova foi sendo sacudida de notícias de jornais e de conversas de especialistas de café. Note-se que o resultado foi o pretendido: criar ruído suficiente para esconder a surpresa (?) pela saída do treinador para o Sporting, treinador esse, que tinha os dias contado na Luz, com via de marcha para o Dubai, ou coisa parecida. Resultando ainda na intoxicação da opinião pública, benfiquista e não só, coadjuvada por uma série de acções, judiciais e circenses, contra o Sporting.

Como é que tudo isto foi possível? Alguns asseguram a existência de um estado lampiânico. Creio que a resposta é mais simples, estando alicerçada na velha tradição corporativista portuguesa, tradição essa, que já teve, inclusive, estatuto legal em sede de código civil, por exemplo, durante o Estado Novo. Essa grande corporação que vem sendo urdida desde o tempo da velha senhora, foi ganhando novo élan durante a batalha da fruta cujo apito pariu um rato. Aparentemente apenas um rato, mas com consequências que se estendem até aos dias de hoje. Não é por acaso que o dragão anda com catarro, cuspindo fogo por outros locais que não o habitual.

Feito o caminho, as mãozinhas (tentáculos é só em Itália) chegam a todo o lado: jornais, televisão, quiosques, feiras do porco preto, e algumas juntas de freguesia, passando pela sede da FPF e da liga dos últimos. No meio disto tudo, vão passando despercebidos alguns pormenores, vouchers, passivo, falências técnicas. Está tudo bem: o aí vai ele Sanches fez mais uma exibição de encher o olho na selecção (o jornal a bola até considera mudar o seu nome para A Bola do Sanches) assegurando-nos mais uma vitória moral e, finalmente, o Slimani foi castigado, após ter sido vendido umas vinte vezes na última semana.

8 comentários:

  1. Excelente texto, ilustrativo do lodo onde nos movemos, e de onde não vejo saída tal o corporativismo lampião em todas as modalidades...

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    1. Meu caro,
      Obrigado pela cortesia. O corporativismo é um fa(c)to com pano para mangas.

      SL

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  2. Em relação à última linha, tenho umas duas ou três a escrever: é pena estarmos praticamente obrigados a fazer um bom encaixe financeiro rapidamente pois era muito interessante ver o Slimani cá na próxima época... era só papoilas a saltitar ...

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    1. Meu caro,
      O poder de encaixe é algo que nós conhecemos bem. Vamos ter que competir com aquilo que temos e tivermos. O Sligol encaixa bem na filosofia...

      SL

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  3. Falência técnica (*) é piada ou estava a pensar noutro clube, esse sim em situação de falência e já com receitas futuras penhoradas?

    (*) no próximo relatório de contas se verá que a "falência técnica" se transformará em lucro quando forem incluídas as receitas dos jogos com o Bayern e as receitas da venda de Renato Sanches (e eventualmente as receitas de venda de Gaitan, se se confirmar)

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    1. Meu caro,

      O aí vai Sanches resolve tudo. Nem precisa de jogar.
      As luminárias que comentam assim o asseguram. Não se preocupe.

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  4. Os adeptos do ABC não têm a mesma cultura do Braga. são absolutamente fanáticos pelo ABC.

    De resto o campeonato foi inquinado nas meias finais. O carnide controlou as nomeações dos jogos com o Porto e ganhou com arbitragens escandalosas. Correu mal a coisa... porque o ABC tem um grande poder na federação, como sempre teve.

    Pena que o Sporting não tenha sido eficaz nas meias. tivemos 2 jogos nas mãos...

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    1. Meu caro,

      Por acaso até sei que tem razão relativamente a alguns adeptos do ABC. Relativamente às meias finais não faltariam mangas para tecermos outras conjecturas.

      Assim sendo resta-nos acreditar. Somos os melhores nisso!

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