quarta-feira, 25 de setembro de 2019

O que fazer?

Só se vê um jogo de cada vez. Um jogo é um jogo, não é uma época, não é a vida desportiva de um jogador ou de um treinador, não é um mandato de uma Direção. Se não se vir um jogo como um jogo que é e nada mais, está-se condenado a jogar em cada jogo a própria vida. Vamos a uma coisa de cada vez. 

O dado mais evidente desde o início da época é a falta de andamento dos jogadores para jogar noventa minutos contra o mais infeliz dos adversários. Não se sabe se foi pelo jogo a meio da semana contra o PSV Eindhoven, mas contra o Famalicão o estoiro ainda foi mais evidente. A pressão alta não durou uma parte sequer. Na segunda parte, os jogadores do Sporting nem capazes foram de chegar à área do adversário e quando procuraram avançar e perderam a bola os jogadores do Famalicão dispunham de um autêntico deserto para atravessar até chegarem ao golo. Os dois golos que sofremos foram repetidos. 

É culpa do treinador? É e não é. É porque é sempre. Não é, porque existe uma pré-época para se prepararem física e competitivamente os jogadores para toda a época. Não estamos felizmente no tempo em que o Agatão fingia que era preparador físico. Hoje, os jogadores são monitorizados em tempo real e a sua condição física também. Existem departamentos profissionais com técnicos especializados para efetuarem esse acompanhamento e, em conjunto com o treinador e a sua equipa, desenvolverem adequadas metodologias de treino. Como é possível ter-se chegado a esta fase da época com jogadores profissionais a parecerem amadores que treinam no fim do trabalho e fazem umas peladinhas ao fim-de-semana? 

A equipa expunha-se como nenhuma outra a sofrer golos. O treinador mudou o 4x3x3 para o 4x4x2 por força da lesão do Luiz Phellype e da ausência de alternativas, entrando o Miguel Luís. Esta mudança também visava dar mais segurança ao meio-campo, colocando os jogadores mais próximo e expondo-se menos quando passavam a bola ou a perdiam. Mas o Doumbia perde-se e, por isso, entrou o Battaglia no último jogo. Nos dois últimos jogos, a equipa pareceu entrar mais consistente, com mais posse de bola. Pouco a pouco vai-se perdendo a disciplina tática e a bola e a equipa vai ficando exposta. 

É culpa do treinador? É e não é. As alterações faziam sentido. Só que foi como se taticamente a época tivesse começado há três jogos. Um equipa rotinada a jogar em 4x3x3 passa a 4x4x2 com o meio-campo em losango em menos de um fósforo. O Doumbia se andava perdido a seis ainda mais se perdeu neste jogo contra o Famalicão. Sem o extremo do 4x4x3 que acompanhasse o lateral, esperava-se que fechasse o lado de dentro do defesa direito, coisa que não aconteceu. Apesar de tudo, no outro lado, o Miguel Luís cumpriu melhor essa função. O Rosier esteve sempre entregue a si próprio e à bicharada. A tática estava colada a cuspe. 

O que impressiona nesta equipa não é a falta de qualidade dos jogadores. Uma defesa com o Rosier, o Coates, o Mathieu e o Acuña é má? Como é que uma defesa destas sofre tantos golos? Porque a equipa como um todo defende mal. Defende mal porque está mal preparada física e taticamente, porque lhe falta agressividade na disputa da bola, porque a pressão alta é um faz de conta e muito rapidamente é ultrapassada. 

Como é que se chegou até aqui? Como é que ninguém percebeu que não se sabia o que se andava a fazer na pré-época? Como é que se prepara tão mal uma equipa? Há respostas fáceis, mas parcelares e não alinho nelas. Explicam alguma coisa mas não explicam tudo. Nem tudo se deve à substituição do Vietto ou às vendas e aquisições de última hora. A organização falhou de cima a baixo. O que há a fazer? Contratar o melhor treinador possível, em quem os jogadores possam acreditar, começar a época a partir desse momento e fazer figas, muitas figas.

10 comentários:

  1. A época está perdida. O grande responsável é o Presidente Varandas que se apresentou, há um ano, como o único candidato que percebia de futebol, ele percebe, é bola!
    Agora, como se diz no post, é contratar o melhor treinador possível, juntar os cacos e construir uma equipa do princípio. Ontem já era tarde. Jesualdo Ferreira seria um bom técnico para essa tarefa (para usar a terminologia de Varandas) mas como já haja quem compare a actual presidência à de Godinho Lopes, isso não vai acontecer mas, porventura, a contratação de Jesualdo foi uma das poucas coisas bem feitas por GL. Dos treinadores apresentados, hoje, pelo Record, nenhum entusiasma, um até repugna mas se tiver que ser um desses que seja Silas.

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    1. Meu caro,

      O Jesualdo Ferreira numa ou duas semanas conseguiu tranquilizar a equipa e colocá-la a jogar minimamente. É verdade que pôde contar com jovens, coisa que não sei se temos disponíveis.

      É preciso jogar pelo seguro num momento especialmente delicado. O que se pede é que não se volte a experimentar para ver se dá. Se outro mérito não teve, o Leonal Pontes ganhou tempo para a direção fazer uma escolha ponderada. Espero que neste caso como noutros, não tenham desperdiçado esse tempo e só agora vão contratar à pressa um treinador.

      SL

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  2. Escreveu (falou) muito bem do Sporting sem a ironia de marca,a tristeza é tanta que não dá para ironias.mas assertivo.
    Parabéns!SL

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    1. Meu caro,

      Temos de fazer um esforço de racionalização. De outra forma, vem a nossa vocação autofágica e cada cabeça sua sentença. As comparações estão por aí. É melhor um maluco ou um incompetente? É melhor vender ou não vender a SAD? Demite-se tudo e vai-se para eleições ou espera-se pelo nome do treinador? É cada cabeça sua sentença e há cabeças que vou ali e já venho.

      SL

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  3. Depois de um ano de mandato e de tudo o que aconteceu neste ano, chegar-se aqui e falar-se em treinadores é simplesmente surreal e inutil.
    Quanto mais tempo esta direção la ficar, mais complicada será a recuperação do clube.
    Não quero malucos, quero gente competente, exigente e que me faça viver o clube com paixão e não com resignação como acontece agora!

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    1. Caro Pedro,

      Não sei do que fala. Esta época iniciou-se mal como muitas outras. Sou capaz de lhe lembrar épocas, como a do Manuel José, que nem jogadores tínhamos quando se iniciou a época.

      Estou-me nas tintas para o Varandas como para qualquer outro que esteja na presidência do Sporting. A mina relação é com o Sporting e não com esta ou aquela presidência. Mas temos de ser analíticos e rigorosos nessa análise.

      Na época passada, bem ou mal, ganhámos mais títulos no futebol do que nas épocas anteriores. Só no tempo do Paulo Bento tivemos desempenho equivalente. As modalidades amadoras estiveram bem. Ganhámos dois títulos europeus no futsal e no hóquei.

      A paixão não serve para reflectirmos com frieza. Querem demitir a Direção? Óptimo. Marcam uma Assembleia Geral distitutiva e tratam do assunto. Nesta altura resolvem alguma coisa? A única coisa que resolve é a satisfação de pessoal de uns que detestam mais este presidente ou de outro do que gostam do Sporting. Pior do que isso, para quem não gosta deste, o que arranjariam era mais um mártir para andar por aí, como se houvesse pouco.

      Entretanto, a época ia toda à vida com prejuízos incalculáveis no futebol e nas outras modalidades. Isto tudo para alguns ficarem aliviados e no dia seguinte não se ter alternativa.

      O que importa é pressionar a presidência para ser competente e deixar de improvisar. O que se exige é que arranjam um treinador em condições para não deitarem tudo a perder. No final, vê-se, como sempre em democracia.

      SL

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    2. Caríssimo, entendo o que diz, mas acha que a competência se adquire com pressões?

      Muitos dizem que varandas deve lá ficar até ao fim para dar cabo do resto e os sócios perceberem de vez o que fizeram, eu defendo que não quero ver o clube pior do que está. Também não me interessa se se chama Frederico ou Bruno ou António, interessa-me o rumo que levamos e queremos, e este sei onde leva, já o vi há 7 anos atrás.

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    3. Caro Pedro,

      Antes de mais, peço desculpa pelas gralhas na resposta de há pouco. Estava a fazer duas coisas ao mesmo tempo e isso costuma dar asneira.

      A questão é institucional antes de mais. Uma Direção só deve ser demitida ou só se deve demitir em situações em que não está assegurado o normal funcionamentos das instituições, como se diz na política. Elegem-se incompetentes mas isso é a democracia. Quantas e quantas vezes assim acontece com os governos?

      Espero que a Direção aprenda, embora tenha as minhas dúvidas. Parece-me que vão improvisar outra vez, dado que não andavam a tratar de contratar outro treinador mas também não tinham convicção no Leonel Pontes ou de outra forma não o mandariam de volta para os sub23 depois de três jogos.

      SL

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  4. "O que impressiona nesta equipa não é a falta de qualidade dos jogadores. Uma defesa com o Rosier, o Coates, o Mathieu e o Acuña é má? Como é que uma defesa destas sofre tantos golos? Porque a equipa como um todo defende mal. Defende mal porque está mal preparada física e taticamente, porque lhe falta agressividade na disputa da bola, porque a pressão alta é um faz de conta e muito rapidamente é ultrapassada." Cocordo plenamente Rui. Mas aqui há um problema gigante. Flata de liderança desde a direcção, passando pela estrutura do futebol profissional e acabando no balneário. Voltamos aquele clube dos anos 9o e tal...pelo menos na altura chegavamos a dezembro. Com esta gente nem isso!

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    1. Caro Dani,

      O que me impressionava com o JJ e na última época é como uma equipa com bons jogadores jogava tão mal. O Sporting não tem um plantel tão extenso em alternativas como o Benfica e o Porto, mas dispõe de jogadores tão bons ou melhores. A defesa é um caso absolutamente extraordinário. Na qualidade dos jogadores, o Sporting tem a melhor defesa do campeonato. Como é que se pode sofrer tantos golos?

      Aceito, seria estúpido se não aceitasse, que a direção é incompetente. Mas a incompetência não chega para os pôr a andar. É como escrevia na resposta ao comentário anterior, há uma dimensão institucional que deve ser preservada. Por isso defendo um maior nível de exigência para com a direção, esperando para ver. Não me parece que democraticamente se possa fazer mais do que isto. Se não resultar, há sempre a democracia a funcionar.

      SL

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