quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Banco bom e banco mau

Ontem, só vi a segunda parte do jogo contra o Olympiacos. Fiquei com o malparado todo. Quem só viu a primeira parte, teve direito a uma garantia do Fundo de Resolução (para quem se preocupe com estas coisas fica mais tranquilo ao saber que o Fundo de Resolução foi criado pelo Decreto-Lei n.º 31-A/2012, de 10 de fevereiro, que veio introduzir um regime de resolução no Regime Geral das Instituições de Crédito e Sociedades Financeiras, aprovado pelo Decreto-Lei nº 298/92, de 31 de dezembro). Quem viu o jogo todo, pode ser considerado um lesado, isto é, começou por acreditar no que viu e depois foi enganado.

Mal comecei a ver o jogo, apanhei logo uma desmarcação tresloucada do Coates pelo lado direito, seguida de umas tabelinhas com o Gelson Martins. Não via nada daquilo desde que o Schelotto se foi embora. Tudo acabou em bem, como acaba sempre com o Coates, com ele a arrear em dois adversários e a parar qualquer possibilidade de contra-ataque. Percebi de imediato que estávamos a um passo do abismo. Conheço o Sporting há meio século e sei bem como é que a malta se deslumbra nestas circunstâncias. Esse deslumbramento não escolhe nacionalidades. Pode atacar um uruguaio ensimesmado ou um brasileiro acabado de chegar da escola de samba da Tijuca.

Fiquei mais descansado quando o Piccini atrasou à queima a bola a meia altura para o pé direito do Rui Patrício e nada aconteceu. O Piccini é o jogar mais regular do Sporting. É sobretudo um jogador de hábitos. Uma vez por jogo é atacado de paralisia cerebral súbita que, quase sempre, dá em golo. Desta vez não deu. O Rui Patrício é mais irregular. Não sabemos ao certo quando é que vai ser atacado dessa doença. Ontem, essa doença acertou-lhe que nem um raio e ele desmarcou o avançado do Olympiacos e nada aconteceu também. Se estava descansado depois da jogada do Piccini mais descansado fiquei depois dessa: o Olympiacos estava no papo. Mesmo quando enfardámos duas batatas e o comentador da televisão ficou histérico, mantive-me impassível e continuei a comer os choquinhos de coentrada que me tinham posto à frente.

O que se passou na segunda parte acontece com demasiada frequência para o considerarmos um mero acaso. O Jorge Jesus sempre teve dificuldade em controlar os jogos com ou sem bola quando está a ganhar. No Benfica era assim também, mas a arbitragem assegurava sempre tantas faltas e faltinhas quantas as necessárias para o jogo não andar. No Sporting tem que puxar pela cabeça e arranjar uma maneira, porque da arbitragem não só não se espera nada disso como se espera exatamente o contrário. É que os jogadores não parecem confortáveis nestas circunstâncias. Não sabem se hão-de atacar ou defender. Se engonham ou se continuam a jogar à bola. O resto está dito e muito bem dito aqui.

(O Jorge Jesus é um grande treinador. Ninguém tem dúvidas que é o melhor em Portugal a quilómetros de distância de qualquer outro. Os benfiquistas também sabem disso e é por isso que não param de falar dele, mesmo quando aparentemente pretendem falar mal. Não há necessidade nenhuma de se autoelogiar. É mais forte do que ele. O que é que se pode fazer?)

8 comentários:

  1. Este post, até à nota final em itálico, é a imagem das exibições do Sporting:
    - entrada muito forte e com grande qualidade;
    - parece resolver o jogo antes de chegar à metade;
    - mantém o espectador tranquilo e satisfeito;
    - mas que, no fim, deita quase tudo a perder...

    um grande abraço!

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    1. Caro Cantinho,

      Este ano tem sido assim. mas nem sempre. Não me esqueço do jogo contra o Setúbal e contra o Steua (em casa). Aí entrámos a dormir e só acordámos quando era demasiado tarde.

      Estamos a evoluir relativamente à época passada. Na época passada éramos mais sonecas.

      Um abraço

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  2. Caro Rui,

    Mesmo sem ter visto a primeira parte captou o essencial. E da 2a parte também retirou a maior lição: temos de melhorar a capacidade de gestão do jogo. Já são jogos a mais a perder vantagens consideráveis.

    SL

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    1. Caro João,

      São muitos anos a virar frangos. Meia dúzia de imagens, duas declarações do Jorge Jesus e meia dúzia de comentários da rapazida da televisão (se estão de monco caído é por que jogámos bem; se estão em tom paternalista é por que estão gojar por dentro por termos jogado mal) e ficamos a saber tudo.

      SL

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  3. Caro Rui
    Nao o conheço mas confesso-lhe que voce me dá prazer em ser do Sporting. É agudo quanto baste na critica de fundo (subscrevo quase sempre) mas não se esquece que se nao mergulharmos no riso de ve em quando, a vida é uma merda!!!!

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    1. Meu caro,

      Este foi um dos maiores elogios da minha vida. Não é pelo elogio mas pelas razões que o faz. O que diz é o meu lema de vida. Mesmo quando estamos na merda se nos esforçarmos um pouco descobrimos sempre uma forma de nos rirmos. Quando nos rimos descobrimos que talvez nõ estejamos na merda tanto assim e que tudo tem solução, menos aquilo que não tem e, por isso, não vale a pena pensar.

      O futebol é óptimo para encontrarmos esses momentos para nos rirmos. Aliás, ao nos rirmos dos nossos próprios jogadores damos-lhe um dimensão mais humana e por isso estamos mais disponíveis para lhes perdoar o que quer que seja. Adoro o Patrício. Ao descrever a exibição dele neste jogo (que foi má) é como se o desafiasse a irmos beber umas cervejas para me contar o que lhe passou na cabeça neste jogo e nos rirmos os dois.

      Agora se não se importa, vou mostrar este comentário à minha mulher. Ela, como todas as mulheres, só me acha inconveniente.

      SL

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