terça-feira, 9 de junho de 2015

Futebol e Finanças

Ao longo dos últimos dias a linguagem económica e financeira tem dominado muitos blogs de futebol. Receita, passivo, resultados operacionais ou provisões são termos cada vez mais comuns na gíria futebolística cá do burgo.

Perante tal elevação da discussão apraz-me debater a entrada de Jesus no Sporting à luz do conceito de custo "afundado". Os economistas utilizam a expressão sunk costs (custos afundados) para designar custos que não são recuperáveis, pelo que termos incorrido nos mesmos não deve afectar as nossas decisões futuras.

Para mim era claro há muito que Marco Silva tinha de sair do Sporting. Desse por onde desse não se iria começar uma época no clima que se jogou metade da última. Nesse sentido, independentemente da sua valia e dos custos que a saída de Marco Silva possam representar - e aqui penso em custos financeiros e não financeiros - eles eram irrecuperáveis, estavam afundados.

Diz portanto a teoria que devemos analisar a chegada de Jorge Jesus ignorando toda a questão do Marco Silva. E quando assim é parece-me que o exercício é muito claro. Existe a questão desportiva e a questão financeira.

Do ponto de vista desportivo é difícil imaginar alguém melhor que Jorge Jesus para liderar a equipa. Tem provas dadas, conhece o campeonato, conhece os jogadores e ainda por cima é Sportinguista.

Do ponto de vista financeiro há duas questões que se colocam: se ele irá merecer o salário que vai ganhar e se o Sporting tem capacidade para o pagar. À segunda não sei responder. À primeira ninguém sabe. Simplesmente havemos de ver. O que sei é que me parece sempre muito mais sensato investir num bom treinador que em coleccionar estrelas sem lhes dar estrutura e liderança. Por outras palavras, parece-me muito melhor estratégia investir 5 ou 6 Milhões de Euros num treinador do nível do Jesus, do que investir 5 ou 6 vezes isso numa estratégia do tipo "cheque e vassoura" para comprar uma colecção de cromos Sul Americanos e depois pôr um forcado qualquer à frente deles. O que espero realmente é que não venhamos a ter ambos: o líder e os cromos. É que aí acho que já podia tentar responder à segunda parte da questão financeira...

4 comentários:

  1. Caro João,

    Estou invejoso. Roubou-me a ideia. Não do "post", mas da utilização do conceitos de custos afundados no futebol. Aliás, o meu amigo e nosso colega de blogue Júlio Pereira ligou-me a falar deste "post", pensando, no início, que tinha sido eu a escrevê-lo. Ainda há dias tive que o explicar a um economista de aviário.

    Quanto ao "post", o Jorge Jesus também se pode transformar num custo afundado. Se não ganhar, a decisão de o substituir não levará em consideração que o que ele custou. Esse é que é o problema dele e de todos os treinadores.

    Um abraço

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    1. Caro Rui,

      Muito obrigado. Esse é sem dúvida um grande problema dos treinadores: é sempre mais fácil manda-los embora do que um jogador, esse valioso "activo". Mas são problemas apenas de pré-época, quando a bola começar a rolar nunca mais ninguém pensa nestas coisas. Talvez seja melhor assim.

      SL

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  2. Caro João, bom texto. Na linha dos excelentes textos que o Rui aqui nos tem deixado. Parabéns aos dois
    No entanto devo informar que, daqui para a frente, algumas associações de palavras como, por exemplo «Jesus / Sporting / custos que não são recuperáveis» podem não ser bem vistas pela Nova Ordem Jesuíta, Se o meu caro não quer incorrer numa qualquer heresia, é melhor que se cuide.
    SL

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    1. Muito obrigado, pelo elogia e pela sensata recomendação. Terei cuidado, até porque sabemos que estas coisas mudam depressa.

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