sexta-feira, 3 de outubro de 2025

E no fim ganhou o Gyökeres!

Tenho andado arredio desta convivência. Hoje deu-me para isto, para regressar ao passado e voltar a [arrotar, salvo seja] mais uma posta [de pescada] futebolística. A Liga dos Campeões constitui um excelente pretexto. É uma competição tão, mas tão disputada, tão renhida como um Carlos Moedas contra a Alexandra Leitão ou um Manuel Pizarro contra o Pedro Duarte. O jogo do [nosso] Sporting contra o Nápoles foi uma disputa tão boa como vêm sendo qualquer uma destas, mas sem direito a sondagens.

Começo com um ou duas notas para nos entendermos. Há equipas que perdem porque os adversários lhe marcam golos e há equipas que perdem porque se autoderrotam. As primeiras são vulgares enquanto as segundas preservam a honra, a dignidade. Não há maior consciência da honra, da dignidade perdida como no “haraquíri”. 

Dir-me-ão, “Mas ó Rui, a autoderrota, o “haraquíri” revela carácter e o carácter ou se tem ou não se tem. Quanto contratamos um Suarez ou um Ioannidis como é que podemos saber se ele tem o carácter para, perante a derrota eminente, se esventrar e pôr as vísceras à mostra [de todos]?”. [Admitir que alguém possa estar a falar comigo e a fazer-me perguntas como esta talvez não faça de mim aquilo que sempre pensei que fosse]. A resposta é simples: pelo preço. 

Um jogador caro, muito caro é um jogador com mais carácter do que um jogador mais barato. Não, amigos sportinguistas, nós somos uns unhas de fome e não, não contratamos jogadores com esse nível, essa categoria. Ter um treinador caro, muito caro, que ganha num mês o que se esperava que ganhasse em dois ou três anos, também ajuda a melhorar o carácter. Não, não vamos lá com a malta da indústria da charcutaria, mais ou menos tradicional, e a contratação ao desbarato de jogadores com penteados dos anos sessenta e setenta.

Continuando nesta linha mais epistemológica, no mundo das ideias. A afirmação de que o Gyökeres só há um o do Sporting e mais nenhum pode ser falsa. Não, é do Arsenal, sei bem. Não é isso. O que o jogo contra o Nápoles revelou é que Gyökeres é um conceito, é um jogador nórdico, alto, loiro, que corre como se não houvesse amanhã. O Ramus Hojlund [dão-se alvíssaras a quem me ensinar a enfiar uma seta pelo ó adentro] não é o Gyökeres, mas é um Gyökeres, percebem? É assim tão difícil o Rúben Amorim perceber isto? Pelos vistos, é. 

Estou farto desta posta [de pescada]. O jogo concluiu-se a contento de ambas as partes. Cheguei a temer o pior quando o Maxi Araújo infernizou tanto, mas tanto o Politano que ele não resistiu a enfiar-lhe uma canelada e assim empatámos o jogo [de “penalty”]. Comecei a imaginar o Varandas a gaguejar à frente do Marlon Brando enquanto este afagava o pescoço de uma gata siamesa, a imaginar o Rui Borges a acordar com uma cabeça de cavalo na cama, a imaginar a equipa a dançar a Tarantela em pontas como o Ballet Bolshoi. Mas, bem, no fim, ganhou um Gyökeres, ganhou o conceito que demorámos dois anos a criar.

5 comentários:

  1. Rui, esse Haraquiri foi uma contratação cara que pesa imenso nas amortizações todos os anos. Devíamos passá-lo a alguém. O empresário do Gyokeres é que estragou o arranjinho, porque o Amorim no United adora Haraquiris num pacote com outros jogadores (no caso, teria sido o próprio Gyokeres) e em troca cedia-nos o conceito de Gyokeres que acabou em Nápoles. Assim, acabou por ir recrutar por uma fortuna aquele rapaz sósia do Adama Traoré que jogava no Holmes Place, ao mesmo tempo que adquiriu um conceito de Gyokeres esloveno (há-os para todos os gostos e de todas as nacionalidades, mas nenhum com a eficácia do original). Esta sua ideia do conceito de Gyokeres implica toda uma dollyrização da economia do futebol. Já estamos habituados à dolarização nas economias mais fracas, mas o futebol a fazer “méééé…” seria uma novidade.

    Grande abraço, Rui, é um imenso privilégio poder lê-lo de novo.

    Pedro Azevedo (o do “…Drible”)

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  2. PS: Rui, segundo uma minha fonte (luminosa), ó Mbeumo foi pago em pesos…

    Pedro Azevedo

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    1. Caro Pedro,
      Devia-lhe esta postada. Bem que podíamos ter vendido o Gyokeres ao Amorim e ficado com o Gyokeres que eles tinham para a troca. Isso é que era um grande negócio!
      Abraço,
      RM

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  3. Caro Rui. Saudades de o ler, espero que encontre motivação para escrever mais e que o nosso Sporting lhe dê razões para celebrar. Obrigado

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    1. Caro Paulo,
      Vamos ver se o Rui Borges e o Varandas nos dão boas razões para voltar a escrever. O Rui Costa, o José Mourinho e o Vieira estão ajudar. Mas eles não chegam, é preciso que os nossos deem uma ajuda também.
      Abraço,
      RM

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