domingo, 8 de dezembro de 2019

Mais uma voltinha, mais uma viagem

Demoro mais a expelir as derrotas do meu corpo e da minha mente. Como elas têm sido em número considerável, apenas com o recurso a um laxante me é permitido continuar a viver de forma minimamente aceitável. E não é nada fácil escrever sobre o assunto.

Fui ver o Sporting a Barcelona, perdão, a Barcelos, no jogo para o campeonato. Ainda hei-de escrever o guião para uma longa-metragem desse jogo e a sua envolvência. Fico-me por uma curta (metragem), mas grossa. Ali chegados, notamos o misterioso desaparecimento das roulotes. À imagem do desaparecimento das abelhas, nenhuma explicação plausível foi enunciada. Na procura de uma bucha apenas encontramos alguma irritação. Estava frio, muito frio. Na entrada para a bancada Norte, onde se encontrava o grosso dos adeptos do Sporting, à irritação, frio e alguma fome, tivemos que juntar uma pitada de paciência.

Para além da proibição (nem sempre, nem para todos) óbvia de entrar no estádio munidos de catanas, explosivos, pistolas e cacetes, também não se podia entrar com nada que tivesse grafado JL, Juventude Leonina, ou Directivo, o que desde logo suscitou algumas questões interessantes. Gente havia vestida dos pés ao pescoço com os ditos, outros juravam acrescentar a roupa interior, outros nem se lembravam se tinham, ou não tinham, em qualquer sítio, as palavras proibidas escritas. Outros juravam não entregar as tatuagens. Bom, depois de apurada conferencia lá se deixou entrar tudo menos os cachecóis. Alguns putos entraram assim no estranho mundo das proibições e dos ultras, deixando o seu querido cachecol à porta. Um absurdo que nos levou à queima para começar o jogo.

E no começo do jogo, ali mesmo à minha frente, o Jesé sofreu penalti, na única vez, em setenta e tal minutos em que ganhou a posição a um jogador adversário. O árbitro sabia ao que vinha e fez de conta (sem precisar) que não era nada com ele. A partir daí o deserto, de ideias, de fio de jogo, de qualidade dos intervenientes. A partir daí apenas o frio, a fome, alguma irritação, a paciência, nos lembravam que estávamos vivos e num estádio de futebol. Dentro de campo não se podia dizer o mesmo.

Já sabemos a história, sem remates não há golos. Apenas o Ilori torna isso possível. O Ilori e o guarda-redes do Gil. Conseguimos chegar ao intervalo sem cortar os pulsos. Foi um feito apenas ultrapassado pelos resistentes que conseguiram chegar ao final do jogo. É certo que temos cinco ou seis jogadores (cuja contratação até é da responsabilidade desta direção) cujo talento para jogar futebol foi-nos manifestamente exagerado, mas não estávamos a jogar em Barcelona, apenas em Barcelos. Compete ao treinador a redundância de treinar e o aborrecimento de planear o jogo contra uma equipa que toda a gente sabia como ia jogar.

No final do encontro Silas disse que tinha mostrar mais uns vídeos aos jogadores e que sentiu que a equipa, em certos momentos (não foram todos?), estava completamente descoordenada, com cada um a jogar para si. Esperamos, assim, pela coordenação no jogo seguinte.

O jogo seguinte continuou a ser em Barcelona, perdão, em Barcelos. Por razões profissionais não pude me deslçocar ao estádio. Não sei se as roulotes apareceram. A equipa do Sporting, isso é certo, não marcou presença na primeira parte do jogo. Por vergonha, provavelmente por estar a jogar contra as segundas linhas do Gil, lá tivemos que disputar a segunda parte com o suspeito do costume a dar um ar da sua graça, lá para o final do jogo. Silas, sempre assertivo, afirmou que tem tido pouco tempo para treinar. Ninguém lhe recordou a recente paragem de três semanas. Aqui ninguém é responsável e ninguém é responsabilizado. Somos uma simpatia no trato. É isso que às vezes enerva o Marcos Acuña. Mas já está tudo perdoado. Venha o Moreirense. Se tivéssemos tido mais tempo para treinar é que era. Não era?

2 comentários:

  1. Roulotes?! Não houve interessados em colocar tais equipamentos com medo de desacatos

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  2. Carissimo,

    Desacatos em Barcelona, perdão, em Barcelos? Entre quem?
    As ditas foram proibidas e até houve quem tentasse furar o bloqueio, entre as moradias, mas havia instruções para multar fosse quem fosse. Essa história faria parte da minha longa metragem. Mas não há tempo nem paciência para isso.

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