domingo, 11 de agosto de 2019

É aborrecido


Gosto particularmente de falar de futebol com um amigo meu, fiel Gilista. Sempre que reafirmo a minha desconfiança sobre a exigência (e a falta dela) no futebol do Sporting, ele contrapõe o fenómeno da desresponsabilização, processo com alguns anos que, no seu entender, levará inevitavelmente à inimputabilidade do plantel (e da estrutura) e à indiferença dos adeptos, no seu estádio último, claro, mesmo que estes continuem fieis.

A mim parece-me uma análise a não descurar, juntamente com a falta de exigência, estando ambas interligadas. Mas acrescento uma política de comunicação extremamente fraca e um descuido de linguagem (e conhecimento) brutais. Veja-se a utilização da palavra “chato”. Chato poderá ser um parasita, um indivíduo desagradável, ou um adjetivo que nos remeta para algo inconveniente, ou mesmo maçador. No Sporting, o adjetivo chato assume várias gradações, na minha opinião todas erradas. Para um ex. presidente, uma invasão (é disso que se trata) de uma academia de futebol era algo chato. Para outro, mais recentemente, uma derrota por cinco a zero era algo para um tipo ficar chateado.

Não percebo a razão da chatice. Mas percebo que poderá existir alguma inquietação nas derrotas. Estar preocupado implica questionar as razões da inquietação. Tentar perceber se existe algum problema. Não é uma preocupação de maior estar preocupado com o seu trabalho, seja ele qual for. Não revela idiotia, questionar se existe algum problema de saúde em alguma situação desconfortável de alguém com o seu corpo. Numa empresa, quem dirige preocupa-se em fazer mais e melhor e em recuperar resultados menos positivos.

A não preocupação tem uma hierarquia que poderá redundar em desleixo. Uma derrota, mesmo por cinco não é o fim do mundo, mas não se traduz apenas (supostamente) numa semana má (pois não senhor Keizer?). Uma semana má é o prato do dia de quem trabalha. E mesmo quem não trabalha tem as suas semanas más. Recentemente experimentei jogar uma raspadinha, não saiu nada, fiquei chateado, mas não preocupado. Deveria?

Os resultados do Sporting (incluindo o de hoje com um golo sofrido de bradar aos céus) são reveladores. Entre oficiais e oficiosos e a feijões que seja, nada escapa, desde a época passada que não ganhamos um jogo. Não é caso para ficarmos preocupados? Bem, pelo menos, aborrecidos. Mas posso arranjar outros sinónimos. A sério que posso. Estou aborrecido. 

18 comentários:

  1. Não se ganha em tempo útil de jogo, desde 5 de Maio de 2019 .

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  2. Hoje podia ter sido apenas entediante, mas não foi, ainda deu para apanhar uns sustos nos últimos minutos, tal a incerteza quanto ao resultado final, com o ferro primeiro e o Renan depois a evitarem os golos do Marítimo, ou aquele remate rasante do japonês que quase acabou do lado de dentro da baliza, ou ver o Raphinha, em fora-de-jogo, enviar a bola duas vezes seguidas contra o poste, com o Charles mais um matraquilho pelo meio, e aparecer na Sporting TV como se estivesse em jogo. Ou aquela do contra-ataque com Bas Dost a correr isolado e o Vietto, creio, em vez de lhe endossar a bola no espaço em frente, a passou para as costas do holandês, emperrando toda a transição e permitindo a recuperação de toda a defesa do Marítimo quando já estava ultrapassada.
    Muita emoção, não entendo como pode ter ficado aborrecido depois de um final electrizante.
    Ainda estou para perceber quem é o pior na relação preço/qualidade, se Eduardo, se Borja, se Vietto, se Diaby. Não me consigo decidir, e por isso não me aborreço, apesar de ficar chateado.
    Agora, preocupado, preocupado, só com o que fizeram ao Sporting. Os usurpadores.

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    1. Meu Caro,

      Não fiquei aborrecido na sua versão de entediado, mas fiquei aborrecido na versão de chateado. esse tipo de aborrecimento chato é muito utilizada cá para cima a Norte. De qualquer forma, folgo em saber que ninguém está preocupado, embora não leve mal ao mundo estar preocupado em não estar preocupado. Vamos ver,

      Sl

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    2. Ah, aborrecido à moda do Norte? Isso já ando desde que começou a sabotagem ao Sporting desde o ano passado. Agora já só me rio, para não me chatear com tanto aborrecimento.

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    3. Meu caro,

      ainda se ri? Então há esperança num futuro melhor. Obrigado!

      SL

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  3. Nem mais, se os sócios do clube não reagirem rápidamente, temo que o actual sétimo lugar, não seja apenas um presságio do regresso ao tempo do Godinho Lopes de tão triste memória

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    1. Meu Caro,

      A triste memória é sempre curta. Isso é preocupante ou chato? Não sei.

      Sl

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  4. Meu caro,

    O tema da desresponsabilização é interessante. Afeta um pouco todo o país (qual o governo que não culpa o anterior ou a conjuntura por todos os males que sobre ele se abatem?), e o Sporting é perito na matéria.

    Não sei se a queda recente do nosso futebol se pode dever à desresponsabilização 'externa'. É tão fácil hoje culpar o Bruno de Carvalho ou a dupla Cintra & Peseiro, como foi há uns anos culpar o famoso 'sistema'. A diferença é que hoje nos queixamos de fatores internos e antes seriam mais 'coisas' vindas de fora.

    Eu sou dos que pensam que não é por um clube ficar calado quando é prejudicado que as coisas se resolvem. Aliás, veja-se o interessante caso do Benfica o ano passado: apesar do Conselho de Arbitragem se recusar a aceitar 'vetos' a árbitros quem não se lembra do episódio do eclipse 'voluntário' de Fábio Veríssimo ? E alguém se lembra, depois desse episódio, de algum erro de arbitragem a tirar um pontinho que fosse ao Benfica? E serão as inúmeras queixas do Porto o ano passado um episódio de desresponsabilização? Pelo que diz o seu treinador, penso que não...

    Mas também sou dos que pensam que ignorar os problemas internos é um desastre porque eles se... repetem. Tendemos a achar que tudo o que Bruno de Carvalho fez estava errado, apenas porque os seus últimos 6 meses foram um desastre. Errado, há muita coisa boa que foi construída. Tendemos a esquecer que o sistema eleitoral que permite que ganhe quem tem mais votos e menos votantes é que colocou Godinho Lopes a destruir o clube. Esse é o mesmo sistema que colocou Varandas em vez de Benedito. Irá a história repetir-se? Tendemos a esquecer que o ADN do Sporting é ser um clube de formação e que os cheques & vassouras ou os autocarros cheios de jogadores para JJ não deram em nada... mas este ano as entradas e saídas fizerem lembrar esses tempos...

    O comentário já vai longo, mas apenas para dizer que estou com o seu amigo do Gil... parcialmente. Acho que uma cultura de desresponsabilização associada à falta de uma cultura de exigência é uma receita perigosa. Goste-se ou não dos personagens, com Paulo Bento e Bruno de Carvalho havia uma cultura de exigência. Hoje não se percebe o que há. E isso é chato. Será preocupante ?

    SL,

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    1. Meu caro,

      Não parece ser preocupante, talvez um pouco chato, maçador ou até mesmo aborrecido. Não podemos ser exigentes, talvez esperar que uma mudança de ADN siga o seu curso. Vai ser mais uma semana dura. Chata mesmo.

      SL

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  5. Julgo que não existe a palavra adequada para descrever o meu estado de espírito quando assisto aos jogos do Sporting, nomeadamente os visionados na SportTv e particularmente o de ontem. É uma grande irritação, após os falhanços clamorosos dos nossos jogadores, quer a defender quer a atacar, misturada com aborrecimento ao assistr à troca da bola entre os defesas e os médios antes que um deles decida atirar a bola para a frente, quase sempre, para Raphinha, para este, quase invariavelmente, correr que nem um louco, ingloriamente e em vão. Ontem até me lembrei dos famosos lançamentos do Polga. Nos treinos de Alcochete, a escolha múltipla na táctica atacante resume-se a: Passa a bola ao Bruno, se não der, Wendel corre com a bola para a frente ou chuta para o Raphinha correr. Esta táctica é muito aborrecida e, òbviamente, não produz resultados positivos. Mas, como nalgumas empresas, como por exemplo na TAP, os quadros superiores almejam receber prémios, apesar dos resultados serem negativos. É chato.

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    1. Meu Caro,

      já tivemos todo o tempo do mundo para chatear os jogadores até à exaustão. É aborrecido estarmos sempre a bater na mesma tecla. Corremos o risco de sermos chamados chatos. Ou coisa pior. Nada de preocupante.Deve até existir um prémio para isso.

      Sl

      Sl

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  6. Tive a expectativa, ou melhor, quis-me convencer que começando a época e com algumas contratações, Keiser poderia fazer um bom trabalho. Fez a pré-época e as contratações estão aí com os resultados e exibições que se conhecem.

    Não peço mais ao Varandas que fazer à versão holandesa o mesmo que fez ao original português. Despachá-lo enquanto ainda não está tudo perdido.

    Se precisar, eu tenho um sinónimo para si. Começa com "F".

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    1. Meu caro,

      Começam a faltar as palavras e escasseiam os sinónimos. Nós continuamos a acarditar. Somos os chatos do caraças.

      SL

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  7. Senhora, partem tão tristes
    Meus olhos por vós meu bem
    Que nunca tão tristes vistes
    Outros nenhuns por ninguém...

    Chateado estou eu que até o meu computador de mesa (torre) de aqui resolveu dar o berro (sábado 10.08.2019) pouco depois do meu regresso do país onde me tinha acontecido a mesma coisa!
    Aqui tenho um portátil de 11,8 polegadas com W10 mas a imagem é demasiado pequena para que eu possa dizer que assisti ao jogo em questão! Vou agora ver o GOLO RTP do Paulo Sérgio para ver se havia falta sobre o Correia no primeiro golo e se havia ou não penalty quando o Dost levantou os braços em forma de protesto!.... De volta já posso afirmar que não fui esclarecio e notei que mesmo na TV as imagens não foram de boa qualidade! Notei também que um dos convidados do P. Sérgio (Nuno Matos ?) se enganou na cartilha e disse que o Bruno Fernandes não sabe jogar "bem" quando queria dizer "mal"!
    Pelo menos, e valha-nos isso, não vi quem manuseava as câmaras e não sei se eram militares da GNR...

    SL

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  8. Meu Caro,

    Os militares da GNR devem andar por aí a conduzir camiões de matérias perigosas. O jogo, aliás, foi limpinho, cristalino o jogado, puro e elucidativo o resultado final. É chato mas é assim:
    partem tão tristes os tristes,
    tão fora de esperar bem,
    que nunca tão tristes vistes
    outros nenhuns por ninguém.

    É chato, aborrecido mas ninguém está triste, pois não?

    SL

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  9. Já antevendo o jogo com o Braga. Keizer tem que escolher entre Thierry e Bruno Gaspar. É aborrecido? Chato? Irritante? Ou uma escolha impossível?

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