segunda-feira, 21 de abril de 2014

Não se festejam os segundos lugares

Milagrosamente, um amigo meu pediu-me para efetuar no sábado uma conferência em Chaves. Evitei, assim, uma série de tarefas domesticas associadas à Páscoa. Os amigos são para as ocasiões, sobretudo para as mais difíceis. Não só me livrei de chatices como conheci pessoas interessantes. Tive a oportunidade de conversar longamente com o Dr. Amílcar Salgado, produtor dos vinhos da Quinta do Arcossó. Nesta altura, espera-se que faça um trocadilho aproveitando a homografia. Qualquer coisa do tipo, houve demasiados golos para tão poucos golos; ou houve mais golos do que golos.

Só aceitei realizar a conferência com a condição de, no fim, ver o jogo. Tinha um jantar notável à minha espera, mas só depois do jogo. Primeiro a obrigação, só depois a devoção. Entretanto, a conferência atrasou-se. Houve quem quisesse falar comigo no final. Simpaticamente, acedi em pulgas.

Acabei por ver a segunda parte. Fiquei com a sensação de não ter perdido muito. Para o bem ou para o mal, esmeramo-nos no que fazemos. Quando estamos a engonhar, engonhamos com zelo e proficiência. Esqueceram-se foi de explicar ao Mané ao que estávamos e ao que vínhamos. Os entusiamos da canalha depois dão nisto. O rapaz entusiasmou-se e, de repente, estava o Adrien na posição de que tanto gosta. A dúvida fica sempre no ar, para nós e para o guarda-redes. A pergunta que procura responder é sempre a mesma: é desta que remato para o lado esquerdo ou continuo a rematar rasteiro e colocado para o lado direito? O guarda-redes colocou todas as fichas na continuidade. Azar e um a zero.

Continuámos a trocar a bola atrás, mas agora ainda mais lentamente. Ficámos à espera que o Belenenses se desmanchasse. Que, por uma vez, se deixasse de cautelas e caísse sobre nós. Que nos desse umas abébias na defesa e no meio campo. Mas eles nada. Continuaram à espera que lhes oferecêssemos um golo.

Estava o jogo nesta modorra, quando se começou a fazer sentir o efeito Cosme Machado; fenómeno natural há muito estudado e ainda não completamente compreendido, face à sua aleatoriedade. Começou de forma insidiosa. De repente, não havia uma bola disputada de cabeça que não fosse falta contra nós. Os livres sucediam-se ao mesmo ritmo das demonstrações de falta de jeito dos jogadores do Belenenses para jogar à bola. Mas o Cosme Machado começa como uma brisa e acaba transformado num tornado. O Rojo, mais impetuoso, faz uma falta. O jogador do Belenenses rebola-se no chão como se lhe tivessem arrancado o dente do siso sem anestesia. O Cosme Machado aproveita de imediato.

O que estava mal, piorou. A jogar contra dez, o Belenenses viu-se na obrigação de atacar; algo que tinha evitado com muito esforço e dedicação. Tirou uns jogadores mais pequenotes e meteu outros maiores e mais frescos. Meteu um calmeirão com cara de poucos amigos. Quando entra um destes percebemos que estão à espera que numa molhada o grandalhão acabe por tropeçar na bola e marcar um golo. Mas este grandalhão não era dado a grandes tropeções, apesar de o Dier e o Maurício terem procurado insistentemente tropeçar um no outro. O William Carvalho é que não está para tropeções nestas alturas.

O jogo lá acabou. Ganhámos e ficámos definitivamente em segundo. Festejámos, mas não muito. Ninguém no seu juízo perfeito festeja um segundo lugar. 

1 comentário:

  1. Rui Monteiro, não me diga, que as televisões acampadas no Marquês, estavam há nossa espera, que fossemos festejar o 2.º lugar? Tiveram que meter o rabinho entre as pernas, e ir fazer óó. porque a ressuscitação do Jesus (como manda a tradição) é no Domingo de Páscoa

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