terça-feira, 7 de julho de 2020

Quim Barreiros e terceira república

Preparo-me para ver jogar o Sporting contra o Moreirense. Em Braga, às nove e um quarto da noite, estão mais de trinta graus. Procuro saber a temperatura em Moreira de Cónegos, aqui ao lado. Estão também mais de trinta graus [e não, nesta altura do dia ou da noite, não há sombra que valha aos jogadores!]. Não sei quem marca estes jogos para estas horas de segunda-feira e não para o horário tradicional de domingo ao princípio da tarde, pela fresquinha. Não deve ser ninguém que tenha lido “Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico”, de Orlando Ribeiro. Se é para continuar a jogar futebol durante este mês e no próximo, então os jogos deveriam ser todos marcados para a Apúlia, Ofir, Moledo, Vila Praia de Âncora ou Mindelo, aproveitando a influência atlântica e a não menos famosa nortada, desde que cada jogador esteja protegido pelo seu tapa-vento. 

Entretanto vi o jogo. 

A rapaziada estava há muito confinada e por isso [ou por outra razão qualquer, não interessa, nunca interessa] acabaria por desconfinar e iniciar-se-ia a ramboia do costume. No domingo, na habitual conferência de imprensa, o Amorim afirmou o seguinte: “Um dia perderemos, mas esse dia ainda não é na próxima semana”. Se repetida, semana após semana, esta afirmação encerra um paradoxo. Mas para se tratar de um paradoxo implica considerar desconhecido o futuro. Se assim não for, o que o Amorim nos afirmou é que simplesmente conhece os resultados antes dos jogos se realizarem [e sabia que hoje não perderíamos, mas que também não ganharíamos ou, de outra forma, está nesta altura a cortar os pulsos]. 

Mesmo na pré-época, os jogos do Sporting são verdadeiramente picarescos [ver a claque do Moreirense apinhada num género de varanda de um prédio que sobreleva o estádio foi um desses momentos picarescos]. Desde o treinador aos jogadores adversários, aos bandeirinhas, ao árbitro, ao vídeo-árbitro e aos comentadores da televisão, participam em exclusivo personagens patuscas, burlescas. Fossem realizados durante o salazarismo e o António Ferro tinha-se borrifado no Galo de Barcelos e nos ranchos folclóricos e transformado o Sporting e os seus jogos em símbolos da identidade nacional [do antigo regime, pensaria ele].

6 comentários:

  1. Para além de um árbitro do terceiro mundo, um campo do terceiro mundo ( terá as medidas corretas para um jogo da 1.ª divisão?) um treinador patusco a mandar guarda redes para o chão ( na Inglaterra, hoje, estava à procura de emprego )vimos a arbitragem, no seu conjunto, a apitar a pedido. Nunca vi coisa igual: quando o lateral direito do SCP com a bola dentro do campo, vai para um ataque perigoso e o fiscal de linha de costas viradas ouve a voz do banco do Moreirense: fora! E não é que ele assinala fora. Se viu, foi com o outro olho, que não digo agora. RIDÍCULO!!!

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    1. Meu caro,

      Este jogo foi apitado a pedido. Não sei se foi só do banco do Moreirense. Foi um jogo habitual.

      Imagino que tudo se tenha concluído com uma churrascada e umas taças de Vinhão, que há muito que no Vinho Verdes se abandonou o morangueiro, o americano.

      SL

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  2. Caro Rui,

    Este "futebol" só de longe: https://levezaliedson.blogspot.com/2020/06/ao-longe.html

    De resto, o Sporting tem sobre si uma espécie de plafond de vitórias e pontos... a partir do momento em que possa fazer (eventualmente) mossa volta à casa de partida. Acabou a brincadeira.

    Um abraço

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    1. Caro Gabriel,

      O futebol português só mesmo à distância, com distância social.

      Ontem, tivemos a encomenda habitual. Umas tantas vitórias, uns tantos pontos conseguidos e lá aparece o homem do fraque para nos cobrar a dívida de não respeitarmos o caminho que nos está destinado.

      Abraço

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  3. Caro Rui,

    Fui vendo o jogo espaços, mas perdi poucos dos picarescos pelo que me dou por satisfeito.

    Entretanto o Amorim segue sem derrotas, afinal os jogadores experientes jogam menos ou igual que os jovens e os árbitros apenas seguem o VAR em função da(s) cor(es) da(s) camisola(s). Como estamos em períodos de avaliação, esperemos para ver quem se dá mal: se o árbitro que não vê nem na TV ou se o VAR que aparentemente anda a ver demais...

    SL

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    1. Caro João,

      Os momentos foram mais do que muitos. O treinador a mandar o guarda-redes atirar-se para o chão. O Guara-redes a pedir informações mais específicas sobre do que se devia queixar. O treinador a dar instruções que se devia queixar do músculo da coxa. A claque do Moreirense confinada nua varanda. O árbitro e os bandeirinhas a apitar a pedido, esperando pela reacção do banco e dos jodadores do Moreirense para decidir.

      Para não faltar nada, ainda houve a rábula dos penalties. Se o VAR não vê o árbitro também não vê, se o VAR vê o árbitro continua a não ver. Ser o VAR o Jorge de Sousa é notável. Admitir que o Jorge de Sousa, sim, o Jorge de Sousa, tenha visto um penalty a nosso favor e o árbitro mesmo assim não ter marcado, é sinal que se ultrapassou o limite, o próprio limite Jorge de Sousa.

      SL

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