sexta-feira, 16 de setembro de 2011

A vontade de pôr a bola lá dentro

Em minha casa não há Sportv. Em contrapartida, posso deixar os sapatos mais ou menos ao acaso. Mesmo assim, de vez em quanto, são levantados autos de averiguação e, em situações extremas, os respectivos processos. Foi o Tratado de Tordesilhas possível, que mais se parece com a vulgar violência doméstica. Apesar de tudo, não me batem e isso é um avanço civilizacional.

Não vejo, portanto, os jogos do Campeonato do Mundo de Rugby. Só vejo os resumos que, normalmente, são uma síntese dos ensaios. As imagens são poderosas. O que impressiona é o olhar dos jogadores, de quem ataca e de quem defende. Quem ataca só pensa em colocar a bola do outro lado da linha e nada mais. Quem defende sabe que os outros só querem isso e nada mais também, e que estão dispostos a tudo para o conseguir. Uns e outros olham-se nos olhos e ninguém tem dúvidas.

Conta tudo, a inteligência, a táctica, a força, a velocidade. Mas duas coisas contam mais do que tudo o resto. O jogo colectivo, ninguém, mas mesmo ninguém, arrisca perder um ensaio para satisfazer o seu ego. A vontade, todos, individualmente e em conjunto, querem por a bola do outro lado da linha. Essa vontade é completamente sôfrega. Não dá um momento de descanso ao adversário, não permite tréguas.

No futebol gosto de golos assim. Com jogo de equipa e vontade. O segundo golo contra o Zurique foi soberbo. A partir de certa altura, percebemos que os jogadores do Sporting vão para o golo. O olhar do Insúa não deixa dúvidas. O Wolfswinkel percebe-o antes de todos os outros. Simula que vai ao primeiro poste, desvia-se e encosta para a baliza. Tarde demais para o guarda-redes, que só percebeu tudo uma fracção de segundos depois. Fica-me na memória a cara do defesa central, de quem tinha vontade de se meter num buraco e desaparecer.

5 comentários:

  1. quando vi a tabelinha que deixa o caminho livre pensei logo.. golo.. como as coisas sao diferentes...
    é o que dá jogar com laerais que vao à linha cruzar e com avançados que efectivamente marcam golos... coisas a que já nao estávamos habituados...

    ResponderEliminar
  2. De facto caro Rui quando vi a desmarcação do Insua ainda senti um arrepio, como quem está Evaldodependente, e vi a bola a bater numa qualquer canela da defesa adversaria. Num segundo momento, outro arrepio com a imagem do Postiga a conseguir surpreender-nos como em tantas outras vezes ao descobrir mais uma inventiva maneira de mandar a chincha ao poste e fazer a sua cara de "coitado". No entanto tudo isto passou quando vi a cara bem parecida do Vólfsvinquél de punho no ar. Ai sim vi q tinha-mos um ponta de lança e não esteio com dois olhos como no ultimo ano e meio.

    ResponderEliminar
  3. folswinkel van speerpunten :)

    ResponderEliminar
  4. Não costumo comentar por aqui, mas é um blog com textos fantástico! Parabéns!
    Aproveito a parte 'off topic' deste post para dizer como gostava que o Sporting tivesse uma equipa de Rugby... É um desporto com excelentes condições para crescer em Portugal, e quem sabe abrir os olhos aos 'patrões' do futebol... Em Inglaterra a "concorrrência" do Rugby e do Crickett só faz bem ao futebol, que é assim 'obrigado' a esforçar-se por agradar aos adeptos (por exemplo, nada de jogos à 2a e à 6a a horas que não lembram ao diabo!)

    ResponderEliminar
  5. Caros leitores,

    O êxtase não está nos golos. O êxtase está naquela fracção de segundo em que percebemos que a bola já só pára lá dentro.

    Quanto o rugby, quem vem de Agronomia fica assim para toda a vida.

    SL

    ResponderEliminar