quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Não basta acertar no diagnóstico

O Jorge Jesus fez o diagnóstico há muito da equipa e compreendeu os problemas que tem entre mãos. Há muito tempo que tinha percebido que, no mínimo, iria ficar sem o Slimani. Há muito que também sabia que não podia contar com o Teo.

Como se lembram, na pré-epoca quase nunca colocava o Slimani a jogar. Quanto muito, jogava na fase final das partidas. Experimentou várias opções para o emparelhamento na frente, que é fundamental para o 4x4x2 que procura sempre implementar. Os resultados foram sempre desastrosos. Fartámo-nos de sofrer golos exactamente iguais aos que sofremos contra o Rio Ave. Sem pressão dos avançados, assistimos a correrias dos jogadores adversários pelo campo fora até chegarem à área e aos desamparados defesas.

Quando os jogos passaram a ser a sério, a equipa só se equilibrou com o Bruno César a jogar no meio. Estamos lembrados do jogo contra o Porto. Começámos com o Bryan Ruiz no meio e o Bruno César no lado esquerdo e só equilibramos o jogo e lográmos a reviravolta quando trocaram de posição. Contra o Real Madrid o Jorge Jesus não repetiu o erro. O Bruno César estava na frente, pressionava os avançados e recuava para fazer de terceiro médio quando era necessário. Como estamos, precisamos do Bruno César no meio e na lateral esquerda. Não se pode pedir ao homem que esteja em dois lugares ao mesmo tempo.

Esta situação ainda mais se agravou pelo facto de o Gelson Martins ser mais extremo do que o João Mário. O João Mário passava a maior parte do tempo, sobretudo quando atacávamos, a jogar como terceiro médio. Estava sempre mais próximo dos outros jogadores do meio-campo e do ataque, sobretudo quando se perdia a bola. O Gelson Martins está a mudar, mas ainda não resolve esta questão do terceiro médio.

Com a substituição do Bryan Ruiz na esquerda pelo Campbell a situação ainda se agrava mais. O Gelson Martins está a aprender. O Campbell não sei se vai aprender, mas, de momento, não faz a mínima ideia do que deve fazer. Se fizesse o mesmo do Bryan Ruiz a ocupação do meio campo seria mais racional. Por outras palavras, fazia mais vezes de médio.

Mantendo o 4x4x2 e os actuais jogadores do último jogo, temos dois avançados que não pressionam os defesas nem recuam quando a bola passa a primeira linha ou para apoiar a saída para o ataque. Temos dois extremos, cada um em seu canto, à espera que a bola lá chegue. No caso do Campbell a incompreensão do que deve fazer é tão grande que mais não faz do que atrapalhar o lateral esquerdo quando avança no terreno. De repente, transformam-se em terra de ninguém uns quantos metros quadrados do campo, para serem explorados pelos adversários em ataques rápidos ou contra-ataques.

O Jorge Jesus, na conferência de imprensa, depois do jogo contra o Rio Ave, voltou a fazer muito bem o diagnóstico. As substituições, embora tardias, também revelaram que os problemas da equipa foram bem identificados. A forma como montou a equipa contra o Real Madrid ou como a mudou no jogo contra o Porto é reveladora do conhecimento destas fragilidades. O problema não está no diagnóstico, o problema está nas soluções. Não basta dispor do diagnóstico certo, é necessário dispor das respectivas soluções. Quanto a isso, só os próximos jogos o dirão.

11 comentários:

  1. Exactamente, o diagnostico esta' mais que feito, e ha' muito. Nao foi so' Slimani a entrar nos ultimos minutos, tambem BRuiz passou a pre-epoca a jogar a 8. JJ tambem ja' contava com a saida de JMario e deu o maximo de minutos a 8 a BR. Estou certo que a ideia foi treinar o homem para fazer de JM, mantendo a filosofia de jogo do ano passado, so' ao contrario -- seria o extremo do lado esquerdo a vir para dentro, ficando o do lado direito (Gelson) mais aberto.
    Infelizmente, isso tb nao resultou, e nunca se viu BR confortavel a 8. Por isso tera' vindo ainda Meli, mas pela falta de minutos nao estara' a convencer. Elias pode ajudar. Todos os outros tem demasiado traccao 'a frente para o papel. Sobra Bruno Cesar. Por mim estava resolvido: joga BCesar e os laterais esquerdos que se amanhem, sao dois, um ha-de fazer o lugar.
    (Sim, nao ter vindo um lateral esquerdo que pegue de estaca foi o que muitos/todos ficamos a lamentar no 31 Agosto.)

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    1. Uma ultima nota: em alguma medida este jogo fez-me lembrar o 0-3 com o Gil Vicente, no tempo de Boloni, Quaresma e Ronaldo. O treinador entusiasmou-se com os jogos anteriores e apostou num 11 arriscado, tudo traccao 'a frente, e foi o descalabro.

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    2. Meu caro,

      Para o Bryan Ruiz ser um género de João Mário precisava de estar mais em jogo. Não sei se tem pernas para isso. Mais do lado esquerdo, embora vindo para o centro, pode-se esconder de vez em quanto.

      O Bruno César é um jogador muito útil mas também não é um craque como o Bryan Ruiz. Serve por ser mais pressionar melhor a saída da bola e defender melhor, mas não é um génio. Para cúmulo, faz falta a lateral esquerdo, porque o JJ não confia nos outros dois. Porventura, falhou a contratação do tal defesa esquerdo.

      SL

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  2. Quer-me parecer que apenas falta tempo para a terapêutica, no dia do Sporting-Porto choviam bacalhaus do Presidente em rapaziada a quem agora pedimos que jogue à jesuita.

    O plantel que JJ devia ter encontrado em Alcochete no dia 1 de Setembro é muito diferente do anterior, mas não estava lá quase ninguém, foi tudo para as selecções, só poucos dias (em alguns casos um dia) antes do jogo com o Moreirense o novo grupo se reuniu e nessa semana jogaram-se 3 jogos, Moreirense/Real Madrid/Rio Ave.

    Com este calendário não estou a ver como Jesus iria conseguir formatar tanta cara nova à sua exigência de treino, normalmente um jogador novo de JJ precisa de uns bons meses para fazer tudo o que o treinador pede com a intensidade que ele exige.

    Se Deus tivesse o azar de ser contratado pelo Sporting não teria 7 dias para criar o universo, no máximo tinha 3 e nós só temos o Jesus e não é o Cristo, é o Jorge.

    Vamos ver o que se passa sexta após uma enormidade de 5 dias consecutivos a trabalhar na Academia, sem viagens de avião em catadupa e deslocações de 300 km de autocarro, só aquela rotina chata de trabalho-casa/casa-trabalho.

    Só mais dois apontamentos, o Bruno César está a sair muito melhor que a encomenda, mas ninguém no seu perfeito juízo deve esperar que um atleta que está sempre a saltitar de lugar renda sempre igual, do que me apercebi em Alvalade a disposição da equipa também tem alterações, passou a 4231 e sim, não tem dado resultado, o par William e Adrien que são a nossa enorme mais-valia, fica ali entretido sem saber bem o que fazer ou deixar de fazer, ambos sabem fazer o trabalho do outro e nenhum faz o dele. No ensino resolviam estes problemas a separar os alunos que juntos pioravam o seu rendimento individual uma coisa do género, o menino Carvalho fica aí no seu lugar e o menino Silva chega aqui mais para a frente. No futebol, não sei.

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    1. Meu caro,

      Excelente análise. O JJ não é muito dado a mudar a táctica. Normalmente, mesmo que seja à força, acaba sempre por adaptar os jogadores à táctica que tem. Muitas vezes com grandes sucessos como o Fábio Coentrão ou o Enzo Pérez.

      O tempo é decisivo para ele efectuar essas adaptações. Com dias de treino é que se pode ver esse trabalho.

      SL

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  3. Exactamente o que escrevi. Espero ver já no próximo jogo outro tipo de juízo na construção do onze titular, há espaço para todos, mas há combinações que simplesmente não vão resultar, na medida em que não jogamos sozinhos. Bruno César e Campbell na esquerda, com Schelotto e Gelson na direita e Alan Ruiz e André na frente, tanta gente que só corre para a frente, é suicídio.

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    1. Meu caro,

      Estamos de acordo. Então nas alas não podemos ter os jogadores todos colados à linha a atacar e a defender. A movimentação tem de ser outra.

      No ataque, embora não sendo o Slimani nas desmarcações e na pressão sobre os adversários, o Bas Dost parece capaz de segurar uma bola e fazer uma tabelas. Também sabe estar nos sítios certos para marcar golos.

      SL

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  4. Com o Bas Dost as coisas são um bocado diferentes.

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    1. Meu caro,

      Completamente de acordo. Como referi no comentário anterior, o Bas Dost não é o Slimani mas é capaz de segurar uma bolas na frente, esperar pelos colegas, tabelando quando é necessário. Também sabe marcar golos, posicionando e movimentando-se de forma adequada a um ponta-de-lança.

      SL

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  5. Caro Rui,

    Parabéns pela reflexão. Estou bastante de acordo consigo e estou bastante optimista. O Jorge Jesus não é o treinador que é apenas por ser bom a diagnosticar. Também é bom a atacar os problemas.

    E neste momento ele tem uns quantos em mãos.

    Um deles deve estar resolvido: uma massa associativa (e quem sabe uma direção e uma equipa) que já pensavam que o futebol era só vitórias. Não é, também há empates e derrotas, é preciso trabalhar muito para evitá-las.

    O Rui descreveu bem alguns dos outros problemas. O do Slimani é o que tenho mais esperança de ser resolvido: o Bas Dost parece ter margem para poder cumprir minimamente a função. O do João Mário acho que se resolverá com a subida de forma do Bryan Ruiz, e até lá terá de ser com o Bruno César. Esta solução cria o problema do defesa esquerdo, para o qual não sei qual será a solução.

    Penso que existe um outro problema que não referiu. A época passada tínhamos dois planos "B": o Montero (até Janeiro) e o Gelson. Eram jogadores que entravam e mexiam com a equipa. Este ano temos no banco muitas estrelas mas ainda não vi quem vai conseguir desempenhar este papel.

    SL

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    1. Caro João,

      Também penso que a solução, pelo menos para já, passará pelo adiantamento do Bruno César. Depois, em função dos treinos, aparecerão os reforços, se servirem para alguma coisa.

      O último problema, de facto, não tinha pensado nele. Não sei se o Montero era um plano "B". Era o que havia quando havia necessidade de de meter mais um avançado. De facto, quando era preciso esticar o jogo e desequilibrá-lo entrava o Gelson. Nesta altura ainda não é visível esse plano "B".

      SL

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